Há sítios que não valem pelo aspecto que têm, mas pelo que representam. Ou pela energia que transmitem. Ou então sou só eu que tenho um fraquinho por poetas. É uma hipótese provável.
Valluvar Kottam desapareceu da edição do Lonely Planet 2013. Felizmente eu tinha uma edição mais antiga e fui até lá. Mal li a história soube que tinha. Não me enganei.
Thiruvalluvar foi um poeta que viveu algures entre os séculos III e I A.C (não existem registos comprovados das datas). Um tecedor de profissão, escreveu o poema Thirukkural quando lhe pediram para passar a escrito os seus ensinamentos orais. Em 1330 estrofes aborda, de uma perspectiva ética, a virtude, a riqueza e o amor. Ainda hoje é usado como código de conduta moral por milhões de pessoas e Thiruvalluvar é considerado um santo.
Toslstoy, na sua “Carta a um Hindu” (que influenciou a postura de revolução não-violenta de Ghandi) faz referência ao Thirukkural.
Valluvar Kottam é um memorial ao poeta/santo. Um templo com a forma de um carro de pedra, ao estilo tradicional Tamil, com a altura de 39 metros, puxado por dois elefantes. No topo, uma estátua de Thiruvalluvar em tamanho real.
As esculturas que adornam a torre remetem para versos do poema. Em frente a ele ( e dando-lhe acesso, pelo terraço) um edifício de 3 andares. No térreo, um auditório com capacidade para 4000 pessoas. Hoje era um monte de restos de uma qualquer feira, provavelmente relacionada com o Pongal (festival da agradecimento ao sol pela abundância nas colheitas). “Is finished Mam, sorry. On the 22 new.” O 1º andar é uma mezzanine, os Balcões Kural, onde se encontram as 1330 estrofes, gravadas em placas de granito dispostas como livros abertos. O terraço é enorme e cobre toda a área do edifício, dando acesso à estátua através de uma ponte.
A entrada principal do complexo é feita de frente para este edifício, com a carruagem meio escondida. Ao passar os portões aflora-me automaticamente um sorriso. Vejo um jardim, umas escadas com um portal e a cúpula do templo ao fundo. Três planos de belezas distintas. Um pouco gastos? Definitivamente. Há lugares mais bonitos? De certeza. E vou passar por eles. O que é perfeito, na realidade: ir num crescendo de beleza e imponência, em vez de desilusões.
A mezzanine tem ar de casa de banho, toda em azulejos. Mas ali estão eles, gravados em granito. Livros de pedra que estão na obscuridade e reflectem a luz das janelinhas, a espaços. Palavras que não entendo, mas que têm milhares de anos. Poemas de um tecedor que se tornou líder moral de milhões de pessoas. Homem ascendido a santo através da poesia. Como não vir até aqui?
Se ainda não conheces, tens de ir ao túmulo do Hafez, em Shiraz. 🙂
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Não conheço. Mas hei-de lá chegar 😉
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