
Existem milhares de fotos possíveis das paisagens incríveis e diversas que caracterizam a Colômbia. Mas muitos dos momentos mais importantes de uma boa viagem por lá não se traduzem bem em fotos bonitas. Têm que ver com a história complexa e tão recente deste país imenso que é preciso aprender, para tentar entender a personalidade das suas pessoas. Hoje trago-vos um chão metálico, feito da dor de muitas mulheres. Uma imagem abstracta de uma ferida real e um exemplo de como a arte pode participar nos esforços de paz e reconciliação.
Fragmentos, Espacio de Arte y Memoria, foi criado em 2017 por Doris Salcedo, que o define como “um contra-monumento e lugar de reflexão sobre o conflito armado na Colômbia”. Num antigo edifício colonial no centro histórico de Bogotá, a artista ergueu um museu com paredes de vidro entre os muros antigos em ruínas. O chão foi criado a partir do metal obtido pela fundição das armas entregues pelas FARC após os acordos de paz de 2016 e a sua elaboração contou com a participação de mulheres vítimas de violência sexual durante o conflito armado na Colômbia. Em três salas minimalistas, alternam exposições e instalações provisórias onde se pretende que as gerações presentes e futuras de artistas exponham obras de arte que trabalhem as memórias do conflito e, através delas, permitam a construção de uma visão coletiva do futuro. Através de um programa que reúne exposições artísticas, atividades culturais, conferências e workshops, o espaço propõe uma reflexão participativa sobre a relação entre arte e memória, entendendo arte e cultura como cenários de possibilidades de reconciliação.
Visitei este museu pela primeira vez este ano, como parte de uma visita guiada em Bogotá que explora lugares e projectos relacionados com o conflito armado e com os esforços individuais e colectivos de reconstruir vidas e comunidades afectadas pelo mesmo, após os acordos de paz. Achei muito impactante.