(“Cadáver esquisito é um jogo colectivo surrealista inventado por volta de 1925 em França.
No início do século XX, o movimento surrealista francês inaugurou o método “cadavre exquis” (cadáver esquisito) que subvertia o discurso literário convencional. O cadáver esquisito tinha como propósito colocar na mesma frase palavras inusitadas (…) agrega mais de um autor. Cada um deles intervém da maneira que deseja, porém, dobrando o papel para que os demais colaboradores não tenham conhecimento do que foi escrito.” Wikipedia)
Tentando brincar um pouco com formatos diferentes de escrita de viagem propus ao meu amigo Filipe que fizessemos uns cadáveres esquisitos, baseados em fotos de São Tomé, onde ambos estivemos em alturas diferentes.
Nunca tinhamos escrito em conjunto e nunca tinhamos “feito cadáveres”. Não sabiamos o que esperar, e ficámos agradavelmente surprendidos com o resultado. E vocês, o que acham?
Casa?
Vazio. Vazio de Vida com Vida Como uma corrente ou a trança que agarra. Vida que morre. Vida que nasce. Raízes para o Céu. Por vezes sustenta, por vezes Oprime Céu que foi. Que nunca será. Talvez num momento de coragem passe a porta. Céu no vazio. Céu no chão. Perder o chão. Em cada janela Sobreviverá. Ganhar raízes Perder Mundo Abarcar folha...raíz...pau. Vida, raízes, céu, raízes, chão, raízes…Vazio Ao mesmo tempo completo.
Fantasmas
Há pegadas na areia Estarei dentro de um sonho? Há quanto tempo? A luz cola-se-me à pele e há uma doçura nesta espuma Não te quero aqui no final desta curva sempre tu Não chegava pisares-me a mim? A resposta ecoa nas ondas Afoga-te nelas, no obô, na palma que sempre nos destrói. Será assim tão simples? Deixa-me o mar, o céu, a calma As palavras nem chegam perto Deixa-me acabar com tudo… Comigo É daqui que eu sou Deixa o vento limpar os teus passos até agora sem rumo Estás aí? Só o mar sabe a resposta.
Costas/Coração
Encosto-me a ti e sinto-me em casa Mãe, sempre sonho com as tuas mãos Dúvidas sempre surgem, mas o coração sabe Mãe, gosto muito das tuas mãos. Menos de nunca as ver Nas costas trago o meu milagre Mãe, temos o mesmo coração? A uma só batida unem-se. Somos um Mãe, tens o mundo nas tuas costas. Sabias? Um dia contarte-ei, sem palavras Mãe, já nasci aqui, colado a ti? Não me respondas, devolve-me só este sorriso Vejo-o pouco, mas não importa Aqueles momentos ficarão connosco Importa que sinto o teu coração. O nosso? Não caí. Atáste-me à vida Mãe, tenho sono Entrego-me nos seus braços. Liberto-me. Mãe, vais estar aí quando acordar?
Corpos
Neste caminho da vida Carregamos o teu corpo Carregamos várias cruzes Sálvas-nos? Sou parvo por perguntar Ainda estamos a tempo? Seguindo em fuga para a frente não sabemos nada, mas temos esperança Cada passo acrescenta o teu corpo, nossos frutos Somos mais que uma soma Nossa côr, o teu sangue Há uma lição a ser aprendida Luz e sombra no rosto da verdade Valerá a pena?