(Dia 4 do Caminho de Santiago: Olveiroa – Corcubion. 20km)
Chegámos ao Mar. E o albergue “Camino a Fisterra” é um só quarto com oito beliches e janelas voltadas para ele. Apertadinhos mas felizes.
Esta foi a etapa mais bonita até agora. Aliás, a beleza tem vindo sempre em crescendo, a acompanhar o nosso à vontade, também. Puxamos uns pelos outros e toda a experiência se torna melhor. Não fosse a Ana a insistir no mergulho depois de almoço, apesar de entretanto se ter posto escuro e a chuviscar, e não tinhamos terminado salgados e felizes a ver o Sol desaparecer, depois de ter voltado em força.
Saímos mais uma vez de noite. Esperava-nos uma descida final de alguns kilómetros e atravessar uma montanha. Hoje quase nada de estrada.
A descida foi realmente infernal. Uma tortura para os meus mindinho magoados. Mas começar a vislumbrar o mar e ver a cara de felicidade dos outros caminhantes compensou tudo.
Agora já estamos todos deitados, mas não consigo dormir. Tenho uma das conversas do caminho às voltas na cabeça; a pergunta de sempre: Porque é que estamos a fazer isto? Por quê estar aqui, muitas vezes já em sofrimento?
Dizemos e pensamos que no fim vamos saber, mas não sabemos. E no entanto, há uma gargalhada, um céu que tem mil azuis, as flores, uma vista que se destapa, uma conversa que surge, um pensamento que vagueia e tudo nos faz esquecer das bolhas, dos pés doridos, dos kilómetros que ainda faltam. Então já sabemos um bocadinho, ainda que não tudo. Chegará ou não chegará…saberemos no final.
E a verdade é que nem por um minuto ainda pensei que podia estar a fazer outra coisa. Por muito que nos kilómetros finais já venha a praguejar para dentro, nunca pensei “não quero estar aqui”. Nunca, nunca.