(Dia 3 do Caminho de Santiago. Vilaserio – Olveiroa : 20 km)
Seis e meia da manhã. A Lua ainda está alta, e gigante. Um circulo de luz perfeito que torna o nevoeiro prateado. As árvores são, a esta hora, recortes negros a pairar neste mar calmo de humidade reluzente. Os nossos passos ecoam no silêncio abafado da névoa que nos abraça.
Paramos a admirar uma árvore solitária numa clareira, que parece prender um feixe de luz e um fiapo de nuvem só seus.
Do lado oposto à lua começa a sair a luz do Sol. Ainda antes do próprio se tornar visivel o céu passa a lilás, primeiro, azul clarinho, rosa e laranja, depois. Subimos um pouco e ficamos acima da névoa, a temperatura aumenta. Descemos e voltamos a ficar mergulhados. Quando voltamos a subir já uma bola quase vermelha se desprende do horizonte. A Lua, que olha para ela de frente, continua enorme, mas mais baixa e agora alaranjada.
Andámos muito pouco…Impossível não parar a admirar este namoro.
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O primeiro terço do caminho foi um prazer. Floresta e campos cultivados, tudo molhado de orvalho e dourado pelo sol que atravessava e se expandia na neblina ainda presente.
Centenas de teias de aranha a unir silvas e árvores. Polígonos concêntricos perfeitos , com o bicho no centro (a dormir?), decorados com pérolas de orvalho.
O Caminho também é apercebermo-nos desta Natureza que tantas vezes nos passa ao lado.
Os restantes terços, quase só estrada. Paisagem variada, e bem mais bonita que ontem, mas o alcatrão não combina comigo. Hoje não andei sozinha, e isso facilita. A piada fácil, o desabafo, o comentário ao que nos rodeia fazem o tempo e a distância avançarem. O meu mindinho constantemente a doer atrasa-os de novo um bocado.
Temos três pelotões. O Luis Sá vai à frente, tipo batedor. O ritmo dele é o ritmo dele e não é para nós aguentarmos. As meninas, nós, seguimo-lo a um passo médio, mas constante. O Filipe e o Luís vêm atrás, mais em passo de passeio e com paragens frequentes (Na minha cabeça trazem chapéus de palha e vêm com cestos de vime, a colher amoras. Na realidade só a parte das amoras acontece).
O caminho é o de todos, mas também é o de cada um.