No dia em que paramos em Buzios, antigo pequeno paraíso agora pejado de resorts, restaurantes e lojas de biquinis, o pior tempo desde Gibraltar. Um capacete cinzento e uma chuvinha que não ensopa, mas molha.
São oito da manhã e ainda está tudo fechado. Assim, tranquilo, percebe-se o que deve ter sido, quando eram só morros verdes que desabam em baías de areia dourada e mar azul. Do lado oposto da vila estão as praias maiores e mais tranquilas, ainda que com a frente de praia cheia de pousadas e vivendas.
Caminhamos os 30 minutos que demora a chegar à Praia da Ferradura. Aí, a vontade entrar no mar, que nos rodeou nos ultimos 13 dias mas que não tocámos, não é mais forte que o vento fresco e a chuva miudinha. Pés na água é o suficiente.
Voltamos à vila. Perdemos Clara, que fica nos correios a mandar coisas de volta à Suiça para aliviar a mochila. Vinte minutos depois de um sumo de manga com wi-fi perdemos a Mehl que volta ao barco para descansar da noite de ontem. O tempo não a convence. Eu e Fede caminhamos sem pressa pelo porto, pelas praias da vila, pelo passeio marítimo.
Falamos da sua (nossa) Argentina, de Lisboa, do lugar onde vai viver aqui mesmo, para onde se muda dentro de dois dias. “Hacer la temporada, o se me va bien, mas tiempo.” Os restaurantes dar-lhe-ão o emprego necesssário para não estourar o dinheiro ganho em Alicante, onde tem vivido. As praias o sossego para continuar a surfar e relaxar. Quiçá armar uma banda. Tocar a sua guitarra, seguramente.
Caminhamos pela areia na direcção de um braço de praia mais afastado da vila e o sol sai. Estava escrito que tinhamos de mergulhar.
Enquanto boiamos comentamos a sensação estranha de querer e não querer que a viagem acabe. Estes últimos dias foram mais difíceis com a quantidade de gente e o ruído que fazem, mas este primeiro cruzeiro, que todos encarávamos como um mal a suportar para uma travessia Atlântica com calma e barata, acabou por nos trazer muito mais do que esperávamos. Em tranquilidade, em alegria, em pessoas. Sempre as pessoas.
…
Último jantar, últimos tudos. Amanhã ainda tomamos o pequeno almoço e vamos para a rodoviária todos juntos. Depois, é cada um no seu autocarro.
Tudo isto continua a suavizatr a transição para a minha viagem, que se faz assim menos solitária, ainda que não menos individual.