Ao fim de três dias começo a ter a “minha” Candelária. Poderia dizer a minha Bogotá, uma vez que esta vai ser a Bogotá a que vou voltar pelo menos duas vezes por ano, mas Bogotá não cabe só no bairro La Candelária. Bogotá não cabe só em lado em lado nenhum. Toda Bogotá é um mundo de micromundos. O meu vai ser La Candelária e hoje começou finalmente a fazer parte de mim.
Presumo que o problema inicial tenham sido os constantes avisos para ter cuidado, que esta era uma zona perigosa. Isso e ter descido demasiado no primeiro dia, para além da Carrera 10. Vi-me, aí sim, numa zona confusa e feia onde achei realmente que, se não tivesse cuidado, podia acabar sem a carteira. Passei esse primeiro dia a caminhar sem olhar para mapas, para não dar nas vistas e sem entrar nas portas que levam aos pátios, verdadeiros tesouros da zona. Nada disto está escondido, é uma questão de zonas e eu tinha andado nas zonas erradas. Faz parte da descoberta.
Entre as Calle 10 e 14 e as Carrreras 7 e 1 há um mundo de casas coloniais coloridas, universidades modernas, bibliotecas e livrarias (tantas bibliotecas e livrarias!), restaurantes e cafés, teatros (tantos teatros!). Há estudantes de todas as idades: miúdos que correm pelas ruas à hora de almoço, adolescentes que passeiam de mãos dadas, jovens adultos que se sentam nos muros ao fim da tarde, adultos que saem da universidade às dez da noite. Há galerias, museus grátis, fundações culturais. Há donos de restaurantes com rastas enormes que se despedem com “Hasta luego linda. Que le vaya muy bien“, e senhoras apressadas que te debitam o menu do dia a uma velocidade impressionante e te tratam por “mamita“. Há muitos “ahorita“. Há tanta côr. Cor das casas e da arte urbana que cobre as paredes de mais edificios por metro quadrado que alguma vez vi. Há guitarras e vozes na Plazoleta del Chorro de Quevedo, berço da cidade. O meu é um nanomundo dentro do micromundo que é La Candelaria, dentro do mundo que é Bogotá. Mas já começa a ser o meu micromundo, e isso sabe muito bem.