Cruzei-me com esta frase “Travel. It leaves you speechless then turns you in to a storyteller“. E aqui estamos, quase estranhos e quase amigos, com histórias que são como as palavras, e as cerejas. Encadeiam-se percorrendo o mundo, desde uma mesa no Porto.
A manhã começou tarde. Temos ganas mas não temos pressa. Por isso chegámos à Taberna de Santo António quando quase todos os clientes tinham as travessas a meio. Eu, a Fernanda e o Luís abrimos os olhos aos baixos preços escritos a giz, o Rui é já da casa. É também ele que nos recebe este fim de semana. Une-nos o gosto pelas viagens, um jantar combinado em Lisboa a 14 de Fevereiro e conversas que não cessaram depois disso. Parecendo pouco, sente-se como muito mais.
A D.Herminia parece preocupada. “Estamos cheios menino. Isto hoje está dificil, mas espere lá” e desaparece dentro do restaurante. Deixamo-nos ficar à porta a apanhar o sol que, ao contrário de todas as previsões, decidiu agraciar-nos. O Universo conspira para que aproveitemos o dia ao máximo. O Universo e a D.Herminia e o Sr. Victor, que lá arranjam uma mesa. Taberna situada entre uma Rua e um Passeio das Virtudes só podia ser assim.
Até cá chegarmos passámos pelo Parque da Cidade e pela Foz, mas também “andámos” pelas Filipinas, pelo Uganda, pela Bolivia. Disfrutamos da beleza do Porto com o céu azul, da relva brilhante, da luz que aquece. Vemos a junção do Douro ao mar. E rapidamente saltamos para o outro lado do Atlântico. Cá como lá o mesmo espirito de descoberta, de entrega ao momento e aos que nos rodeiam.
Tanto mundo deixou-nos esgalgados. Atacamos os rissóis. “Ah, a menina não come carne?” Venham mais três tipos diferentes, sem carne mas de recheio surpresa “A minha mãe experimenta com tudo…pode ser de qualquer coisa, mas esteja descansada que nao têm carne”.
Pataniscas e alheiras. Doses para um batalhão. Gente do Norte é assim, carago. Comida de mães ou avós, lembrando infâncias felizes.
Pedem-se mais imperiais, que não chegam. Perdão, finos, que lá aparecem. Tudo se comparte, para além das memórias, e as alheiras são comida dada a brincadeiras. “E o ovo estrelado, dividimos?”
Não entra mais um alfinete e as conversas tornam-se locais. Estamos demasiado pesados para viajar e é ponto assente que, por mais mundo corrido, não se encontra comida como a nossa. Então chega o leite-creme, que há quem tenha sempre um espacinho para um docinho e a dose para um torna a dividir-se. Afinal cabe sempre mais qualquer coisa.
Quase a rebolar decidimos a levantar-nos. Já é meio da tarde sem que déssemos por isso e há mais Porto para ver. D.Herminia distribui beijinhos, insta-nos a voltar.
Seguramente que sim.