Vinha escrever sobre a arte urbana em Bogotá. Sobre a quantidade e qualidade dessa arte, as razões para ambas num país que viu, e continua a ver, a sua dose de terror e que o exorciza e denuncia através desta arte. Mas chego ao quarto, ligo a CNN e vejo as noticias dos ataques em Paris. Fico sentada na cama, de boca aberta e com o coração apertado. Mensagem ao Remi. Tudo ok. Fico ligeiramente mais descansada, mas não menos em choque.
Falamos muito em segurança, quando viajamos. Nos sitios onde ir, não ir e como ir. Tanta gente não viaja por medo e vamos a ver e acontece isto. O mundo enlouqueceu.
Bem sei que há gente a viver no meio de guerras há anos para quem a situação em Paris, agora, não é nada, comparativamente. Bem sei que esta é uma situação complexa que não consigo chegar a compreender. Bem sei que um azar pode acontecer em qualquer lugar a qualquer hora e que o único que podemos fazer é usar senso comum para nos mantermos seguros, em zonas mais complicadas. Mas o conceito de segurança, das precauções que se podem tomar, dos sitios a que pode/deve ir ou não estão a mudar drasticamente.
Se tudo pode mudar num segundo, estejamos onde estejamos, então é melhor fazer com que cada segundo conte para que a nossa vida seja, em cada um desses segundos, aquilo que os preenche. No meio do choque, da tristeza, da preocupação com as pessoas e com o que tudo isto significa para o futuro, sinto-me aliviada e abençoada por estar aqui, agora, a descobrir e a querer escrever sobre a arte urbana em Bogotá.