Ensopada em suor e morta por um sítio fresco avisto uma prateleira de livros numa janela. Na esquina, uma porta e uma placa: Ábaco, libros y cafe. Entro, sento-me e peço uma limonada de coco. O calor lá fora aperta e a mim apertou-me bastante.
Enquanto bebo a limonada de coco e as ventoinhas exercem o seu efeito refrescante, olho para o telemóvel em busca de indicações para os lugares que vou visitar a seguir. Vou olhando em volta. Sinto-me em casa, no meio dos livros e das paredes de tijolo.
Escrevo algumas palavras soltas. Nesse momento a dona do lugar vem cumprimentar dois homens que se tinham sentado na mesa ao lado da minha. Conhece o mais novo, que lhe apresenta o mais velho, um homem de uns 60 anos, a quem tratam por doutor. “Teresa, mucho gusto”. O doutor começa a declamar um poema que ela também conhece. Fala de uma Teresa. Quando terminam ele convida-a a sentar-se. Ela tem umas encomendas para despachar, mas promete voltar.
Termino a limonada e percorro as estantes de Literatura Colombiana. Já me faz falta um “livro livro”… papel. Tiro Efrain Medina Reyes, o Cinema Árbol. Não tem o preço, por isso dirijo-me à caixa, na entrada. O balcão do café é em frente a esta, e estão a tirar fotografias do lugar e de pormenores.
Perguntam-me se podem usar as minhas mãos para segurar um livro, junto a um café, para uma foto para a página de internet. Enquanto testamos posições converso com Andrés, o fotógrafo. Pergunta-me para onde vou a seguir a Cartagena, e sorri quando lhe digo o meu nome. Ele é Andrés Filipe.
Saio de Ábaco com a promessa de não perder o nascer do sol junto ao rio Palomino, com um livro debaixo do braço, refrescada e de coração cheio. Saio também com a certeza que, cada vez mais, o meu tempo este: devagar. O tempo dos livros, das conversas, das palavras. O tempo que nos permite aproximar-nos dos outros e partilhar sorrisos que se vêm e se respondem, porque há tempo para isso.
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